Memórias Insubmissas
"As Mulheres mortas e desaparecidas da Ditadura Militar"
No
Brasil, as mulheres estiveram presentes em diversas mobilizações, tendo uma
grande importância na resistência à Ditadura Militar (1964-1988). Elas atuaram
em diversas frentes de oposição à ditadura, tais como em sindicatos, clubes de
mães, movimento estudantil, organizações eclesiásticas, movimento em defesa dos
direitos humanos e na campanha pela “Anistia ampla, geral e irrestrita” para os
perseguidos políticos. Elas reivindicaram direitos trabalhistas voltados à
maternidade, entre outros aspectos, em articulações como o Movimento do Custo
de Vida (1973) e o Movimento de Luta por Creches (1979).
As mulheres lutaram por espaços de expressão e o fim das perseguições
políticas, constituindo-se em agentes relevantes da oposição ao regime militar,
estabelecendo avanços e questionamentos acerca de seu lugar no espaço público.
Elas foram protagonistas não apenas na oposição à ditadura militar, mas também
promoveram uma ruptura no âmbito da cultura e dos costumes, fortalecendo o
movimento feminista brasileiro.
A
conduta das militantes e guerrilheiras desafiava a ditadura militar, bem como o
papel social tradicional que se esperava das mulheres. Desse modo, elas foram
duplamente castigadas. Essas mulheres sofreram os diversos tipos de violência imposta
pela repressão ditatorial, mas também a violência de gênero, tal como as
torturas que dialogavam diretamente com as práticas do patriarcado,
utilizando-se da violência sexual e contra a maternidade.
Ademais,
as práticas que impunham a desigualdade não se restringiram somente aos grupos
conservadores, mas também alcançavam os agrupamentos de esquerda e os setores
progressistas, levando muitas mulheres a assumirem as exigências do patriarcado
durante a militância naquele período.
Sabe-se
que, ao menos, 51 mulheres foram assassinadas ou desaparecidas por meio da ação
do Estado ditatorial. Há, ainda, inúmeras mulheres vítimas fatais desconhecidas
entre os povos indígenas, camponeses e trabalhadores rurais, comunidades
quilombolas etc. Na atualidade, há inúmeras questões a serem respondidas para a
construção da memória destas mulheres que foram presas, torturadas e mortas
pelas mãos do aparato repressivo da ditadura militar. Diversas mulheres foram
vítimas de desaparecimento forçado e seus familiares continuam sem respostas
quanto ao seu paradeiro, as condições em que foram assassinadas ou sobre quem
são os responsáveis por tais crimes.